sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Que tipo de caridade as pessoas andam fazendo ultimamente? Vinicius me convidou esses dias pra dar uma volta, sabe como é; parar de parecer à neurótica que tenta se jogar da janela todo dia, mas acaba jogando tudo na privada mesmo. Acabamos parando na praça que todo mundo intitula como “a praça dos maconheiros”. Ninguém fuma nada, só colocaram esse nome porque essa gente idiota tem a mania irritante de colocar rótulos em tudo que é coisa, lugar ou pessoa. É por isso que ela tá sempre vazia, o que é perfeito porque não quero fingir que sou tão normal quando as pessoas que vêm o jornal das oito. Tirando a nossa presença deprimente, estavam dois mendigos que aparentemente dormiam. Um casal no estilo “Somos perfeitos, mas não transamos a mais de um mês” estava passando e a mulher, fingindo ser uma pessoa virtuosa, jogou algumas moedas a eles. Foi à melhor cena que já presencie na minha vida. Os mendigos se levantaram na mesma hora, cuspiram nos pés dos dois e saíram andando falando algo sobre “gente escrota que pensa que somos lixos.” O casal, é obvio, ficou revoltadíssimo e disse que a sociedade tava perdida mesmo. Se eles soubessem que são a escoria dessa perdição, estavam se oferecendo pra jogar da janela no meu lugar. A questão é que você faz um ato de caridade: vai lá doa dinheiro pra alguma instituição, doa um bocado de roupa usada, lembra de comprar um quilo de alimento pra aquela, qual o nome mesmo? Nem lembra mais. Só pra sentir a alma limpa, pra sentir que fez algum bem ao mundo, para as pessoas olharem pra você dizer: “Essa sim é uma pessoa que eu admiro.” É pro bem próprio e pra engordar um pouco mais o ego que as pessoas fazem caridade. Elas nunca fazem pensando que isso vai fazer toda a diferença na vida de alguém. Por isso não culpa as pessoas que recebem e se irritam, cospem, chamando de tudo que é nome e passando por mal educadas ao receber esse tipo de migalha. Eu, sinceramente não faço mais caridade. Não sou uma pessoa ruim ou a besta de oito cabeços e quatro olhos que você deve estar pensando. Não faço, porquê ando doando outro tipo de coisa. Porque interpreto caridade como rendição do que a gente tem de melhor. Caridade é amor. Caridade é sorriso. Caridade é aquele olhar carismático que você dá pro seu vizinho que acorda sempre mal humorado, é aquela sincera pergunta “Está tudo bem mesmo?” que concede a alguém, mesmo que a pessoa esteja irradiando felicidade, é quando você tem todos os motivos do mundo pra mandar a merda a primeira pessoa que cutucar você, mas faz isso por quem tá pior e precisando do seu abrigo, da sua proteção. Nunca dei algo alguém esperando algo em troca, sei que isso pode fazer um mal danando. Mas só de sentir a forma como isso completa outra pessoa me dá vontade de acreditar que essa porra de sociedade pode ser melhor. Só falta a capacidade olhar por lado e querer ser mais para outro alguém do que para si mesmo. Amar, ao invés de tentar morrer de amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário